No último sábado (5), cerca de 100 grafiteiros marcaram presença em Perus, zona norte de São Paulo, com um mesmo objetivo: revitalizar a Viela do Sapo, um beco que, segundo os moradores, não consta sequer no mapa das ruas do bairro.
Cada artista levou seu próprio material e pintou o espaço de forma gratuita, trazendo vida e cor ao espaço preto e branco, o que atraiu, principalmente, os olhares das crianças.
“Aqui na viela não tinha nada disso antes. É bom, porque isso é mais uma coisa que podemos conhecer. Mais obra de arte. Essas pessoas estudaram muito pra fazer isso, são muito inteligentes”, diz o estudante Matheus da Silva, 12, enquanto observava as pinturas junto aos vizinhos.
A iniciativa partiu do morador e grafiteiro de Perus, Danillo Fernandes, 31, conhecido como Guetus, que há quatro anos organiza o Perusferia. O evento procura revitalizar os becos do bairro e disseminar a cultura hip-hop por meio de grafites. “Esse tipo de atração tem como objetivo acabar com o preconceito que as pessoas têm com o grafite, pois sempre o associam ao vandalismo”, afirma.
Desde criança, Guetus passa pela viela e nunca viu nenhum tipo de atividade cultural sendo realizada no local. Observação que o acompanhou até a vida adulta, fazendo com que organizasse a iniciativa em parceria com o Coletivo Lado Sujo da Frequência. Boa parte dos moradores colaborou com restantes de tinta e distribuição de lanches. Comerciantes e escolas da região também disponibilizaram alimentação e material aos artistas.
De cima de sua janela, o casal José Francisco dos Santos, 44, e Vera Lúcia Favaro, 48, observavam ansiosos pelo resultado. Moradores da viela há seis anos, eles aprovaram o trabalho, pois as pinturas podem trazer uma nova perspectiva para o local, que também sofre com problemas de infraestrutura.
Conhecido como Viela do Sapo, o espaço já foi alvo de diversas enchentes no passado, concentrando, também, muitos anfíbios. “Antigamente, essa viela era um rio que, pouco a pouco, foi sendo canalizado”, fala Seu Francisco, apontando para as bocas de lobo e aberturas por onde ainda passa o canal.
Hoje em dia, o problema das enchentes foi resolvido. Mas outra dificuldade assola a vida dos habitantes. Moradores contam que, quando chove, o esgoto instalado não comporta todo o dejeto que vem das casas acima da viela. As bocas de lobo estouram, fazendo com que, frequentemente, a população fique dias convivendo com o odor de dejetos. Vera Lúcia comenta que a prefeitura tem um projeto para isso, mas que desconhece seu andamento.
Lixeiros também não chegam ao local. Tanto o casal quanto a vizinha Débora Santana, 23, vão todos os dias até a rua José Picanço, ao lado, depositar seus sacos de lixo em uma caçamba. Ao ver os grafites, os moradores se animam e afirmam que a iniciativa deixa a viela mais alegre.
“O intuito de projetos como o Art in Home, do Lado Sujo da Frequência, e o Perusferia é servir como ponte, levando cultura a quem não tem acesso e servindo de referência, principalmente, para as crianças”, comenta o fotógrafo Guilherme Bittencourt, 21, também integrante do Lado Sujo da Frequência.